Instituição paulista sofre com o déficit de policiais. Desfalque de investigadores e escrivães supera 5,2 mil profissionais.
A Polícia Civil de São Paulo já perdeu quase 400 policiais aposentados só neste começo de 2017. A debandada escancara ainda mais a defasagem de funcionários na instituição que, segundo a última atualização do Portal da Transparência, já atinge 25%. Ou seja, um quarto dos cargos estão vagos.
![Policiais investigam crime em setembro de 2015 na Favela Alba (Foto: Will Soares/G1)](http://www.milnoticias.com.br/wp-content/uploads/2017/02/policia_civil1.jpg)
Policiais investigam crime em setembro de 2015 na Favela Alba (Foto: Will Soares/G1)
Conforme levantamento, em janeiro, foram 332 aposentadorias publicadas no Diário Oficial do Estado (DOE) e, só na primeira semana de fevereiro, outras 49, totalizando 381 policiais a menos na instituição em pouco mais de um mês.
As carreiras mais afetadas pelas aposentadorias foram as de escrivão e investigador, que perderam 125 e 108 policiais, respectivamente, no período. Os cargos já contavam, juntos, com um déficit de mais de 5,2 mil profissionais.
13 delegados, 22 agentes policiais, 26 agentes de telecomunicações, 5 papiloscopistas e 11 auxiliares de papiloscopistas também abandonaram o barco e engrossam a crise na Polícia Civil.
Para o especialista em segurança pública Rafael Alcadipani, as aposentadorias em massa são frutos da falta de investimento e planejamento do governo, já que é sabido que muitos policias estavam e estão próximo da idade de aposentadoria. “Mas não realizam os concursos na quantidade que deveriam ser realizados. Historicamente, não têm realizado a reposição necessária”, ressalta.
Dados obtidos pelo G1 e referentes ao segundo semestre de 2016 mostram que a instituição está com profissionais com idade avançada. Apenas 3% dos policiais civis de São Paulo têm menos de 30 anos e 44% dos delegados serão idosos nos próximos anos. 75% dos escrivães têm 40 anos ou mais e a idade média do investigador paulista é de 47 anos.
De acordo com Alcadipani, esse envelhecimento dos policiais tende a provocar “um colapso” na instituição em breve. Se por um lado os agentes têm experiência, por outro já não têm o vigor físico que a profissão exige. “Quanto mais velho você fica, mais sem paciência com as coisas costuma ficar. Você perde a energia de querer fazer diferente”, acrescentou.
Polícia Científica
Nas carreiras ligadas à Polícia Técnico-Científica (PTC), responsável pelos trabalhos de perícia nos crimes ocorridos no estado, a situação não é diferente. A corporação é um braço da Polícia Civil e conta com seis carreiras: auxiliar de necropsia, atendente de necrotério, desenhista, fotógrafo, médico-legista e perito, que perderam, juntas, outros 30 policiais aposentados só no começo deste ano.
Na PTC, quase 40% das vagas estavam desocupadas em dezembro. Não à toa, a instituição ainda emitia, no último trimestre de 2016, 11,5 mil laudos de exames necroscópicos, criminalísticos, clínicos e laboratoriais realizados em 2015.
O atraso compromete a elucidação dos crimes e, segundo Alcadipani, aumenta a sensação de impunidade: “Não se consegue ter a prova técnica dos crimes. Com a ausência dessas provas, é mais difícil condenar os criminosos”.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo afirma que “investe na contratação para a ampliação de efetivo das policias, tanto que, apenas para a Polícia Civil, foram contratados 3.338 agentes desde 2011”.
A pasta ressalta também que nomeou, em novembro, 78 delegados, 106 investigadores e 292 escrivães para minimizar o problema do déficit de funcionários na instituição. Eles, no entanto, ainda estão no curso de formação da Academia de Polícia (Acadepol) e, por isso, fora da ativa.