Justiça incluiu Jamil Name Filho e seu pai, Jamil Name, em outubro como corréus do processo por causa do arsenal.
O advogado Fábio Gregório, que defende o empresário Jamil Name Filho, o Jamilzinho, suspeito de ser um dos chefes da suposta milícia do jogo do bicho, apresentou em defesa prévia a Justiça o pedido de nulidade das provas encontradas em uma casa da família Name, onde estava escondido um verdadeiro arsenal: fuzis, carabinas, pistolas, revólver, munições e carregadores. De acordo com o defensor, a apreensão do material ocorreu sem um mandado judicial e com o arrombamento do imóvel.
Segundo denúncia do Ministério Público Estadual (MP-MS), o arsenal pertenceria a milícia criada pela organização criminosa ligada ao jogo do bicho para eliminar desafetos. O grupo seria, conforme a denúncia, liderado por Jamilzinho e seu pai, o empresário Jamil Name. Os dois foram presos no fim de setembro junto com outros 18 suspeitos de integrarem o grupo. Atualmente estão na penitenciária federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte.
O arsenal foi descoberto no dia 19 de abril deste ano, em uma casa no bairro Monte Líbano, após a prisão do ex-guarda municipal Marcelo Rios. De acordo com a denúncia, a Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assaltos e Sequestros (Garras), recebeu a informação de que Rios estaria de posse de uma grande quantidade de armas e após localizá-lo e prendê-lo realizaram buscas em três endereços, encontrando o arsenal na casa que era de propriedade da família Name.
Inicialmente, o MP-MS denunciou somente Rios pelo crime de posse ilegal do armamento. Mas com a suspeita de que ele era integrante da milícia e com o avanço das investigações sobre a atuação do suposto grupo, em 18 de outubro, a Justiça aceitou o pedido de aditamento da denúncia feito pelo Ministério Público. Foram incluídos como corréus no processo: Jamil Name Filho, seu pai, Jamil Name, além de Rafael Antunes Vieira, Vladenilson Daniel Olmedo e Márcio Cavalcanti da Silva.
Na época do aditamento, o advogado Renê Siufi, que representava então Jamilzinho e seu pai no processo, disse que os dois desconheciam a origem das armas e que não sabiam que Marcelo Rios estava guardando o arsenal na casa no bairro Monte Líbano. Ainda se manifestaram sobre o caso o advogado Anderson Buzo, que representa o ex-guarda municipal Rafael Antunes. Ele disse que o cliente apenas prestava serviço como motorista da família e que não sabia do arsenal. O advogado Alexandre Franzoloso, que faz a defesa do ex-guarda Marcelo Rios, preso com as armas, informou que não se manifestaria enquanto o processo estivesse em andamento.
Agora, Fábio Gregório, que assumiu há alguns dias a defesa de Jamilzinho, questiona a legalidade de toda a ação policial que levou a descoberta do arsenal. Primeiro aponta que não havia “informação clara e precisa” de que Rios, quando foi preso estava portando arma de fogo e que havia apenas uma “mera suspeita”, já que escutas com conversas telefônicas do suspeito chegaram ao Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MP-MS, apenas no dia 20 de abril, ou seja, depois da descoberta do arsenal.
Gregório ressalta ainda que com o ex-guarda municipal não foi encontrada uma arma de fogo e sim um carregador de pistola no momento da prisão. O advogado de Jamilzinho também questiona o argumento da polícia e do MP-MS de que o ex-guarda municipal teria autorizado a entrada no imóvel onde foi encontrado o arsenal, já que a porta da sala da casa foi arrombada, sem mandado judicial e sem uma justificativa que apontasse uma situação de flagrante delito.
Desse modo, mesmo com a polícia encontrando um arsenal no imóvel, o advogado pede ao juiz da 1ª Vara Criminal de Campo Grande, em razão da violação de normas constituições e do Código Penal, que seja declarada a “nulidade da prova obtida mediante o acesso ao local sem ordem judicial”, com o desentranhamento do processo.
A defesa de Jamilzinho também pede que não sejam consideradas provas da ação o conteúdo de 39 pen-drives encontrados com o ex-guarda municipal quando ele foi preso. Os dispositivos tinham conversas do aplicativo Whatsapp entre Jamilzinho e sua ex-esposa.
Na denúncia, o MP-MS destaca um diálogo entre os dois datado de 18 de abril de 2018. Conforme o Ministério Público, nesta conversa fica evidente que “a família Name tinha montado uma organização criminosa consistente em um verdadeiro grupo de extermínio e que iniciariam, a partir dali, a maior matança já vista na história de Mato Grosso do Sul”.
O advogado de Jamilzinho defende que a conversa de WhatsApp de seu cliente com a ex-esposa tem conteúdo sigiloso e inviolável sem uma decisão judicial que determine o acesso das autoridades policiais e do Ministério Público a esse material, e que, portanto, essas provas têm de ser anuladas e desentranhadas do processo.
Com essa argumentação, Gregório pede a nulidade do aditamento da denúncia que incluiu Jamilzinho, seu pai e outros três suspeitos como corréus do processo de posse ilegal do arsenal, já que estaria amparada em uma prova ilícita.
O advogado requer ainda a intimação do MP-MS para que junte aos autos do processo a autorização judicial que o autorizou a ter acesso ao trecho da conversa de WhatsApp de seu cliente com a ex-esposa, bem como juntar todo o trecho da conversa e não somente um fragmento.
O Ministério Público Estadual (MP-MS) rebateu o advogado de defesa do acusado. Aponta que houve flagrante de crime deste o momento da primeira abordagem ao ex-guarda municipal Marcelo Rios, que levou depois a descoberta do arsenal, bem como em todos os lugares da apreensão. Ressalta ainda que a defesa faz uma leitura equivocada do relatório. Já o Garras informou que não vai se pronunciar sobre o assunto.