Imagens mostram que criminoso já estava morto e que colega do militar se abaixa para não ser atingido. Esposa de auxiliar de produção questiona ação da PM, que apura o caso.
SENADOR CANEDO/GO – Após a perseguição que baleou e matou o auxiliar de produção Tiago Messias Ribeiro, de 31 anos, e um menor, cuja identidade não foi revelada, que o fez refém, um policial militar entrou dentro do carro roubado e efetuou disparos no para-brisa dianteiro. Em um vídeo, que mostra a ação, é possível ver o suspeito já morto no local. Outro PM chega a se abaixar para não ser atingido. A família do refém questiona a atuação da corporação, que apura o caso.
Tiago foi abordado pelo suspeito na noite de sábado (25), na chácara onde mora com a família, em Senador Canedo, na Região Metropolitana de Goiânia. Ele foi obrigado a entrar no carro e dirigir para o assaltante, que entrou no banco do passageiro. O tiroteio ocorreu próximo a um posto de gasolina.
A assessoria de imprensa da PM informou, em nota, que, ao ser informada do roubo, conseguiu localizar o veículo. Ainda de acordo com o comunicado, “durante a abordagem, os policiais foram recebidos com disparos de arma de fogo oriundos do interior do carro” (veja a íntegra ao final do texto).
Então, segundo a PM, os militares revidaram, atingindo os ocupantes. Tiago foi colocado em uma viatura e levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), mas no meio do caminho, o carro bateu em um poste. Uma ambulância fez o resgate, mas ele chegou ao hospital morto. Já o assaltante morreu no local.
Família questiona
A esposa de Tiago, a dona de casa Rovena Gonçalves, questiona a ação da PM. Ela disse que assim que o marido foi levado, entrou acionou a corporação e deu características do marido para que ele pudesse ser encontrado. Ela acredita que eles se confundiram.
“Para mim é claro que houve essa confusão. É uma falta de comunicação entre eles na minha opinião. Consegui falar no 190 e falei claramente, levaram meu esposo, está dentro do carro e está sem camisa. O porte do bandido, do menor, com meu esposo, é completamente diferente. O menor é franzininho, bem moreno, bem raquíticozinho, meu esposo é forte, alto”, afirma.
Um dia antes do assalto, a família tinha sido vítima de roubo no mesmo local. Rovena afirma que, na sexta-feira (24), o mesmo menor, acompanhado de um comparsa, esteve na chácara. Na ocasião, eles levaram o carro do pai da filha mais velha dela. No entanto, o veículo foi encontrado no mesmo dia.
O corpo do auxiliar de produção foi enterrado no Cemitério Jardim da Paz, em Aparecida de Goiânia. Além da mulher, ele deixa dois filhos e uma enteada.
O QUE DIZ A OAB
A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil Seção Goiás (OAB-GO) suspeita que a polícia tenha manipulado a cena do crime, para parecer que disparos foram dados em legítima defesa. De acordo com Danilo Vasconcelos, membro do grupo, o caso vai ser acompanhado pela Ordem.
“Aparentemente é para mostrar que houve uma reação ou uma ação de quem estava dentro do carro. Há uma suspeita grande de que houve uma conduta indevida para simular uma troca de tiros que, aparentemente, não ocorreu”, disse.
O que diz a PM:
Na tarde de ontem, 25/11, equipes de policiais militares do 27º BPM foram informadas sobre o roubo de um automóvel VW/Gol, de cor branca, pelo setor Vila Galvão – Senador Canedo.
Pouco tempo depois as guarnições visualizaram o referido veículo pelo Conjunto Sabiá, naquele mesmo município.
Durante a abordagem os policiais foram recebidos com disparos de arma de fogo oriundos do interior do carro.
Imediatamente os militares revidaram à injusta e atual agressão, alvejando dois ocupantes que estavam no automóvel.
Um dos indivíduos foi socorrido para Unidade de Pronto Atendimento – UPA, onde não resistiu aos ferimentos e veio a óbito.
Já o outro indivíduo, ainda não identificado, foi atendido pelo Corpo de Bombeiros e faleceu no local. Foi apreendida na ocorrência uma Pistola .40, que está com numeração suprimida.
A PMGO vai instaurar o Inquérito Policial Militar como faz em todas as ocorrências com mortes por intervenção policial.