Vítima e namorado tinham ido ver uma casa para alugar e morar juntos quando foram atingidos pelos disparos feitos pelo policial da sacada da casa dele. PM alegou que atirou porque pensou que era casal que estava ameaçando ele.
POÁ/SP – A minha sobrinha levou um tiro e morreu sem nem saber por que ela levou aquele tiro”. A indignação é de Geílsa Maria de Lima Silva, tia da jovem morta por um policial militar de folga na madrugada de segunda-feira (2), em Poá. Brenda estava com o namorado no bairro Jardim Madre Angela, onde foram ver uma casa para alugar e morar juntos, quando foram surpreendidos pelos tiros disparados pelo PM, da sacada da casa dele. À polícia, o PM justificou que tem sido perseguido e fez os disparos porque a vítima fez movimentos bruscos quando estava na moto.
Apesar da bala alojada nas costas, Rhuan Carlos dos Santos, de 19 anos, recebeu alta do hospital. “Na hora que ele fez o disparo, eu só vi ela caindo nos meus braços com o tiro. A bala atingiu ela e pegou nas minhas costas”, conta.
A família da jovem está indignada. “Se ele se sentiu ameaçado por outras pessoas, por que ele não chamou uma viatura? Agora ele sai na sacada da casa dele e atira?”, continua a tia
Ainda segundo Geilza, a sobrinha mora em Guarulhos, mas vinha para a casa da avó para encontrar o namorado, que trabalha em uma empresa de bijouterias e, aos fins de semana, é entregador de pizza. Os dois tinham ido comprar um lanche e, na volta, entraram na rua do policial para ver a casa que queriam alugar.
O corpo de Brenda foi enterrado na manhã desta terça-feira (3).
Em nota, a Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP) informou que a Delegacia de Poá instaurou inquérito para investigar o caso. O boletim de ocorrência foi registrado como homicídio e foi solicitada perícia para o local. Além de dizer que a Polícia Militar acompanha as investigações. No entanto, a SSP não respondeu à pergunta do G1 se o policial militar foi preso ou se vai responder a algum processo.
Protesto
Na tarde desta segunda-feira, dois ônibus foram incendiados no Jardim São José, na mesma cidade dos fatos. “É uma manifestação a respeito de uma menina que foi assassinada nesta madrugada sem motivo nenhum”, explicou a dona de casa Rosemar Martins da Costa.
Os familiares da vítima esclareceram que não partiu deles a intenção de fazer os protestos contra os policiais.
O aspirante da Polícia Militar, Henrique Ferreira dos Santos, disse que a PM tenta identificar os autores dos incêndios. “Alguns indivíduos se atentaram contra os ônibus. Dois foram queimados e um depredado. Nós estamos levantando as informações para fazer resposta a essas ações criminosas”, destacou.
Depoimento
O policial militar de 21 anos, segundo a polícia, confessou que atirou da varanda de sua casa porque estava sendo ameaçado. Ele informou que horas antes, uma bomba havia sido jogada na varanda de sua casa e que desde que uma operação foi feita, com a prisão de várias pessoas, em um condomínio perto de onde mora, um casal rondava o imóvel da família.
Durante a manhã de domingo (1º), o policial chegou a ligar para o 190, que abordou o casal, que estava sentado na frente da casa. Os dois conversaram com policiais e depois saíram do local.
O policial ainda disse que à tarde ouviu gritos de “vai morrer policial cagueta”. Quase às 22h ouviu o barulho de uma bomba que caiu na sua sacada.
O PM disse ter visto pelas imagens do circuito de monitoramento da sua residência uma pessoa jogando o objeto. Ele ligou novamente para o 190. Policiais se deslocaram para o local e passaram a fazer rondas para encontrar alguém com as mesmas características e, por isso, não tinham ido ainda registrar o caso na delegacia.
O policial relatou que ficou na sala, atento ao que acontecia na rua. Ele ouviu barulho de moto e foi olhar na sacada. De acordo com a PM, uma moto fazia o retorno no meio da rua e voltou sentido sua residência. “Neste momento, a garupa fez um movimento brusco com as mãos (não sabe informar exatamente qual foi o movimento), para se resguardar efetuou disparos no sentido da motocicleta”, informou, segundo relato no boletim de ocorrência. Ainda de acordo com o documento, o policial não soube informar quantos disparos fez porque estava nervoso.
O policial relatou que logo em seguida foi até a rua e viu os dois no chão e que pediu para populares chamarem o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e a polícia.
Na delegacia, a Polícia Civil pediu informações sobre o casal que foi abordado durante a manhã de domingo na frente da casa e “os dados daquelas pessoas não correspondem aos das vítimas desta ocorrência.”
A perícia esteve no local e fez fotos, inclusive da casa do PM onde estavam fragmentos de bomba.
O namorado estava no hospital e, por isso, não foi ouvido durante o registro da ocorrência. Nenhuma arma foi encontrada com o casal.
A delegada Wanessa Miranda Ferreira, que registrou o caso, afirmou que “não há dúvidas de autoria e legitimidade, mas não é possível afirmar se agiu em legítima defesa.” Como o policial pediu que chamassem socorro para as vítimas, se apresentou à polícia e entregou a arma, ele vai responder em liberdade.
A delegada ainda afirmou que viu as imagens que mostram a bomba sendo jogada e que aparece “uma pessoa aparentemente do sexo feminino colocando fogo em um objeto e disparando em direção à casa.” De acordo com o boletim de ocorrência, uma perita analisou e disse que “a vítima fatal aparenta ser a mesma pessoa que arremessou o objeto na residência.”